SOBRE O LIVRO
O príncipe e o mendigo, lançado em 1881, tornou-se um clássico da literatura infanto-juvenil. No entanto, o livro contém um forte tom de denúncia social, e por isso é apreciado por leitores de todas as idades. Desde o seu lançamento, a obra fez enorme sucesso e foi diversas vezes adaptada para o teatro, o cinema e outras mídias.
Antes de falar do livro propriamente dito, vale a pena conhecer um pouco do seu autor: Mark Twain. Considerado um dos maiores nomes da literatura norte-americana, Twain escreveu no século XIX e sua obra se tornou muito popular por usar uma linguagem coloquial, bem próxima do cotidiano das pessoas. Seus livros falam de injustiças sociais e revelam uma boa compreensão da natureza humana.
Agora sim, vamos ao livro! O príncipe e o mendigo, um de seus trabalhos mais conhecidos, tem sua história ambientada na Londres do século XVI e gira em torno de dois meninos sósias. Eles eram fisicamente idênticos, mas viviam em mundos completamente diferentes.
Um era o príncipe Edward, herdeiro do trono da Inglaterra. Como tal, era muito paparicado e desfrutava de inúmeras regalias. O outro, Tom Canty, era um menino muito pobre que vivia em uma das regiões mais miseráveis da cidade. Maltratado pelo pai, que vivia bêbado, era obrigado a mendigar. Apesar de tudo, Tom conseguiu ter um nível de instrução razoável e sonhava em, um dia, experimentar a vida na corte.
Um dia, os dois se encontram casualmente e resolvem fazer uma brincadeira: trocar de roupas. Mas o que começa como um passatempo se transforma em um drama. O verdadeiro príncipe é confundido com o mendigo e expulso do palácio, enquanto o pobre Tom se vê em apuros quando todos passam a acreditar que ele é o futuro rei da Inglaterra.
A partir daí, inicia-se uma jornada com momentos engraçados, comoventes e até perigosos, nos quais os meninos se deparam com situações e ambientes que lhes eram totalmente desconhecidos. A versão integral do livro tem, em média, 300 páginas, a depender da edição.

POR QUE EU GOSTEI DO LIVRO
Achei a crítica social que o autor faz muito importante. O livro mostra como as desigualdades sociais e econômicas fazem sofrer os mais humildes. Infelizmente, esse tema permanece atual; o mundo de hoje é ainda mais desigual e injusto do que na época em que se passa a narrativa.
Gostei também que a obra nos incentiva a ter empatia, ou seja, a sentir a dor do outro. Em sua jornada como mendigo, o verdadeiro príncipe sentiu na pele as dificuldades que os menos favorecidos enfrentavam. Essa experiência contribuiu para que ele se tornasse depois um rei bom e justo.
Outro aspecto é que a história prende a atenção. É cheia de aventuras, reviravoltas e suspense, elementos que tornam a leitura bem animada. Há também momentos muito engraçados, relacionados, por exemplo, às enrascadas em que o mendigo se envolve na corte ao ser confundido com o príncipe.
Destaco, por fim, a linguagem leve e acessível. Mesmo sendo um livro do século XIX, uma pessoa com nível razoável de leitura consegue acompanhar a história com facilidade. Esse livro pode, portanto, servir como uma excelente porta de entrada para o mundo dos clássicos da literatura.
Recomendo O príncipe e o mendigo. Trata-se de um livro com personagens bem construídos, temas atuais e que nos ensina lições valiosas. Vale a pena ler!
TRECHOS DO LIVRO PARA SABOREAR
Os fragmentos abaixo mostram que, de fato, o livro discute temas profundos e importantes.
Dois mundos, uma só aparência
Não se falava de outra coisa em toda a Inglaterra senão do novo bebê, Edward Tudor, príncipe de Gales, que dormia envolto em sedas e cetins, inconsciente de todo esse espalhafato, sem saber que grandes lordes e damas o vigiavam e guardavam – e sem tampouco se importar com isso. Mas não se falava sobre o outro bebê, Tom Canty, envolto nos seus pobres trapos, exceto entre a família de mendigos que ele viera incomodar com a sua presença.
A dura realidade familiar de Tom
Bet e Nan tinham quinze anos – gêmeas. Eram meninas de bom coração, sujas, vestidas com trapos e profundamente ignorantes. A sua mãe era como elas. Mas o pai e a avó eram um par de demônios. Embebedavam-se sempre que podiam, depois brigavam entre si ou com qualquer outra pessoa que aparecesse no seu caminho. Sempre praguejavam e diziam palavrões, bêbados ou sóbrios. John Canty era ladrão, e sua mãe, uma mendiga. Faziam das crianças mendigos, mas não conseguiam fazer delas ladrões.
O preconceito contra a mulher
O padre Andrew também ensinou a Tom um pouco de latim e o ensinou a ler e escrever; e teria feito o mesmo com as meninas, mas elas tinham medo das zombarias dos amigos, que não teriam suportado nelas tamanho refinamento.
O poder da leitura
Ele lia frequentemente os velhos livros do padre e fazia com que ele os explicasse e comentasse. Os seus sonhos e leituras provocaram aos poucos certas mudanças no seu ser. As figuras de seus sonhos eram tão refinadas que ele passou a lamentar as suas roupas maltrapilhas e a sua sujeira, desejando que fosse limpo e mais bem-vestido.
“Quando for rei, eles não receberão apenas pão e abrigo, mas ensinamentos dos livros: pois uma barriga cheia vale pouco quando a mente e o coração estão famintos. […] pois o aprendizado suaviza o coração e gera a gentileza e a caridade.”
Adultos traziam suas perplexidades para que Tom as resolvesse e ficavam espantados com a inteligência e sabedoria de suas decisões. De fato, ele se tornou um herói para todos os que o conheciam, exceto para a sua própria família – eles eram os únicos a não ver nele nada de especial.
O desejo de experimentar outra vida
— Oh, rogo-te, não digas mais nada, é maravilhoso! Se eu apenas pudesse me cobrir com vestimentas semelhantes às tuas, descalçar os pés e deleitar-me na lama uma vez, ao menos uma vez, sem ninguém para me censurar ou proibir, acho que eu poderia renunciar à coroa!
Julgamentos injustos e cruéis
— É a lei, Vossa Graça, para os envenenadores. Na Alemanha, os moedeiros falsos são fervidos até a morte em óleo; não são jogados na fervura de repente, mas abaixados aos poucos e lentamente no óleo fervente: primeiro os pés, depois as pernas, depois… — Oh, por favor, não diga mais nada, milorde, não posso suportar! – gritou Tom, cobrindo os olhos com as mãos para eliminar a imagem. – Peço a Vossa Mercê que seja dada uma ordem para mudar esta lei; oh, que nenhuma outra pobre criatura tenha de suportar as suas torturas.
— Minha boa e velha mãe inocente dava duro para ganhar o pão cuidando dos doentes. Um deles morreu, os médicos não sabiam como; assim, minha mãe foi queimada como bruxa, enquanto meus filhos olhavam e choravam.
— Mendiguei, de casa em casa, eu e a esposa, levando conosco os garotos famintos, mas era crime ter fome na Inglaterra; assim eles nos desnudaram e nos açoitaram em três cidades. Bebam todos de novo à misericordiosa lei inglesa!… Pois o seu açoite sugou fundo o sangue da minha Mary, e sua abençoada libertação veio rápida. Ela jaz ali, na vala comum, a salvo de todos os danos. E os garotos… bem, enquanto a lei me açoitava de cidade em cidade, eles morreram de fome.
Empatia e misericórdia
— Ninguém acredita em mim, nem tu acreditarás. Mas não importa: dentro de um mês estarás livre. E mais, as leis que te desonraram e envergonharam o nome inglês serão varridas dos livros estatutários. O mundo está errado. Os reis deveriam estudar as suas próprias leis, às vezes, e assim aprender a misericórdia.