SOBRE O LIVRO
O Corpo: Um Guia para Usuários é um livro do escritor e jornalista Bill Bryson, publicado em 2019. Conhecido por seu estilo envolvente e bem-humorado, Bryson já explorou temas como história, ciência e cultura em obras famosas. Nessa obra, ele conduz o leitor por uma fascinante jornada pelo corpo humano, abordando, por exemplo, o funcionamento dos órgãos, os mistérios do cérebro, a complexidade do sistema imunológico e muito mais.
O grande diferencial do livro é a forma acessível como Bryson apresenta a ciência. Ele explica temas complexos de um jeito simples e até divertido. Isso torna a leitura agradável até para quem não tem o hábito de ler sobre biologia ou medicina.
A obra é amplamente elogiada pelo público e pela crítica, justamente por equilibrar profundidade e clareza. A capacidade de Bryson de falar de temas complexos com simplicidade e precisão científica contribuiu para que o O Corpo se tornasse um dos livros de divulgação científica mais vendidos e respeitados dos últimos anos.

POR QUE EU GOSTEI DO LIVRO
Gostei porque ele me permitiu aprender mais sobre as maravilhas do corpo humano de uma forma agradável e envolvente. Embora seja rico em conteúdo científico, a leitura nunca se torna cansativa ou difícil. Pelo contrário, a escrita de Bryson faz com que até os temas mais técnicos se tornem prazerosos.
Também achei a obra bastante completa. Em pouco mais de 500 páginas, o autor aborda todos os principais aspectos do corpo humano, passando pelos sistemas digestivo, respiratório, nervoso, entre outros, além de explorar temas como a luta contra doenças. É verdade que as explicações nem sempre são aprofundadas, mas são suficientemente claras para proporcionar uma visão abrangente e despertar ainda mais curiosidade.
Outro ponto que me chamou a atenção foi a postura humilde do autor. Ele reconhece que, apesar de avanços consideráveis, o conhecimento científico sobre o corpo humano ainda é limitado. Muitas questões básicas continuam sem respostas, e Bryson não hesita em admitir essas lacunas. Nem sempre encontramos essa humildade em livros científicos, o que torna sua abordagem ainda mais interessante.
No entanto, há um ponto no qual discordo do autor. Em diversos momentos, ele se mostra impressionado com a complexidade do corpo humano, chegando a usar diversas vezes a palavra “milagre” para descrever alguns dos processos que sustentam a vida. Mas, ao invés de considerar a possibilidade de uma inteligência superior por trás dessa complexidade, ele defende a teoria da evolução, ou seja, que tudo é fruto do mero acaso. Vários cientistas também defendem esse ponto de vista, mas considero essa opinião contraditória. Pessoalmente, acho muito mais coerente a visão do bioquímico Michael Behe, que defende a existência de um “Projetista Inteligente” em sua obra A Caixa Preta de Darwin: O Desafio da Bioquímica à Teoria da Evolução.
Apesar dessa ressalva, considero O Corpo: Um Guia para Usuários uma leitura proveitosa e enriquecedora. O livro nos ajuda a compreender melhor os impressionantes processos que mantêm a vida, despertando um maior apreço pelo nosso próprio corpo e incentivando-nos a cuidar melhor dele. Recomendo a leitura!

TRECHOS DO LIVRO PARA SABOREAR
Qualquer que fosse o volume do investimento ou o cuidado ao escolher os melhores materiais, ainda assim seria impossível criar um ser humano. Mesmo reunindo os maiores gênios (vivos ou já falecidos), dotados da totalidade do conhecimento humano, todos eles juntos não conseguiriam produzir uma única célula viva.
Este é inquestionavelmente o fato mais espantoso a nosso respeito: somos um mero conjunto de componentes inertes, os mesmos encontrados num punhado de terra. Eu já disse em outro livro, mas creio que vale a pena repetir: o que é especial nos elementos que nos constituem é o fato de eles nos constituírem. Esse é o milagre da vida.
Não se sabe por que esses 7 bilhões de bilhões de bilhões de átomos (ou seja, os octilhões de átomos que compõem o corpo humano) sentem uma urgência tão grande de serem você. Afinal, são partículas sem vida, não há pensamentos ou ideias nelas, […] são apenas blocos de montar. […] Porém, de alguma forma, quando todas essas coisas se unem, há vida. E isso é um mistério para a ciência.

E o mais impressionante nisso tudo é que não há nada no comando: cada componente da célula reage a sinais de outros componentes, todos se empurrando e se chocando, como carrinhos de bate-bate no parque de diversões. No entanto, de algum modo essa movimentação aleatória resulta numa ação suave e coordenada, não só dentro da célula como também em todo o corpo humano, conforme elas se comunicam umas com as outras em diferentes partes do seu cosmos particular.
Seu DNA não passa de um manual de instruções para fabricar você. O DNA é extremamente estável. Pode durar dezenas de milhares de anos. Hoje em dia, é o que possibilita aos cientistas desvendar a antropologia do passado muito antigo. É provável que todas as coisas que você possui neste exato momento — uma carta, uma joia, uma relíquia de família — não existirão mais daqui a mil anos, mas seu DNA sem dúvida seguirá por aí e será recuperável, caso alguém se dê o trabalho de procurar.
O paradoxo da genética é que somos todos muito diferentes e ainda assim praticamente idênticos, em termos genéticos. Os seres humanos compartilham 99,9% de seu DNA, porém não existem dois humanos iguais.
O corpo costuma ser comparado a uma máquina, mas ele é muito mais que isso: opera 24 horas por dia durante décadas sem (praticamente) exigir manutenção regular ou a instalação de peças sobressalentes, funciona à base de água e alguns compostos orgânicos, é macio e bastante gracioso, além de móvel e flexível, reproduz-se com fervor, faz piadas, sente afeição, aprecia um pôr do sol avermelhado e uma brisa refrescante. Conhecemos quantas máquinas capazes disso? É indiscutível. Você é um prodígio, sem dúvida

E como celebramos a glória da nossa existência? Bem, para a maioria das pessoas, exercitando-se minimamente e comendo muito. Pense em toda a porcaria que você enfia na boca e em quanto tempo passa esparramado num estado quase vegetativo diante de uma tela brilhante.
“As pessoas agem como se a cor da pele fosse um determinante de caráter, quando se resume a uma reação à luz do sol.”
Dentro da sua cabeça fica a coisa mais extraordinária do universo. Ainda que viajássemos por cada palmo do espaço sideral, possivelmente não encontraríamos em lugar nenhum algo tão maravilhoso, complexo e funcional quanto esse cerca de um quilo e meio de massa esponjosa que temos entre as orelhas.
Cada neurônio se conecta a milhares de outros neurônios, produzindo trilhões e trilhões de conexões — tantas conexões “em um único centímetro cúbico de tecido cerebral quantas estrelas na Via Láctea”.
Certamente o mais curioso e extraordinário acerca do cérebro é como ele é tão desnecessário. Para sobrevivermos no planeta, não precisamos fazer música ou filosofar — você na verdade só precisa ser mais esperto que um quadrúpede —, então por que investimos tanta energia e risco em produzir uma capacidade mental que não necessitamos de fato? Essa é apenas uma das muitas coisas sobre seu cérebro que seu cérebro não lhe conta.

Considerando como o cérebro é estudado à exaustão, e há tanto tempo, é extraordinário quanta coisa elementar ainda não sabemos ou, pelo menos, sobre as quais não concordamos de um modo geral. Como: o que é a consciência, exatamente? Ou: o que de fato é o pensamento? Não podemos prendê-lo em um pote de vidro ou observá-lo numa lâmina de microscópio, contudo um pensamento é claramente uma coisa real e definida. Pensar constitui nosso talento mais vital e milagroso, porém, em um sentido fisiológico profundo, não sabemos de fato o que é pensar.
Assim, há uma quantidade imensa de coisas ainda por aprender e muitas outras que talvez nunca venhamos a descobrir. Mas, da mesma forma, parte das que sabemos são no mínimo tão incríveis quanto as que não sabemos. Considere como enxergamos — ou, para dizer mais precisamente, como o cérebro nos diz o que enxergamos.
Ekman concluiu que seis expressões são universais: medo, raiva, surpresa, prazer, nojo e tristeza. A mais universal de todas é o sorriso, o que não deixa de ser um pensamento agradável. Nunca foi encontrada uma sociedade que não retribua um sorriso.

A audição é outro milagre seriamente subestimado. Quando você enfia fones de seiscentas libras nos ouvidos e fica maravilhado com a riqueza e a perfeição do som, tenha em mente que tudo que essa tecnologia cara está fazendo é lhe transmitir uma aproximação razoável da experiência auditiva que seus ouvidos lhe proporcionam de graça.
“Se pudéssemos escutar sons ainda mais baixos, viveríamos num mundo de ruído constante, porque o movimento aleatório onipresente das moléculas do ar seria audível. Nossa audição realmente não poderia ser melhor”.
O cheiro é certamente uma experiência intensamente pessoal. “Acho que o aspecto mais extraordinário do olfato é que cada um cheira o mundo a seu modo”, contou-me Beauchamp.
Os componentes mais familiares da boca são sem dúvida os dentes e a língua. Nossos dentes são criações formidáveis, além de incrivelmente versáteis Mesmo assim, quando pensamos na facilidade com que conseguimos quebrar, digamos, um cubo de gelo (tente fazer isso com a mão e veja o resultado) e no pouco espaço ocupado pelos cinco músculos mandibulares, podemos apreciar como a mastigação humana é plenamente apta.

Sem dúvida há outra coisa notável que fazemos com a boca e a garganta, que são os ruídos imbuídos de significado. A capacidade de criar e compartilhar sons complexos é uma das grandes maravilhas da existência humana e a característica, mais do que qualquer outra, que nos diferencia de todas as demais criaturas.
O sangue é, em resumo, um líquido complexo. Segundo uma estimativa, uma única gota de sangue pode conter 4 mil tipos diferentes de moléculas. É por isso que os médicos adoram pedir exame de sangue: ele vem positivamente repleto de informação.
Os glóbulos vermelhos são engenhosamente projetados para fazer um único trabalho: levar oxigênio. Um glóbulo vermelho completo consiste quase todo de hemoglobina. É essencialmente um contêiner de navio.
Transfusões de sangue salvam um monte de vidas todo ano, mas coletar e armazenar sangue é um negócio caro e até arriscado. “Sangue é um tecido vivo”, “Está tão vivo quanto seu coração, seus pulmões ou qualquer outro órgão. No momento em que você o tira do corpo, ele começa a se degradar, e é aí que os problemas começam.” Tradicionalmente, era uma prática-padrão entre os médicos completar o sangue perdido na lesão. “Se você tivesse perdido um litro de sangue, eles repunham um litro. Mas daí apareceram a aids e a hepatite C, e o sangue doado às vezes vinha contaminado, então começaram a recorrer menos às transfusões, e ficaram surpresos ao descobrir que os pacientes muitas vezes tinham resultados melhores quando não recebiam transfusão.” Acontece que em alguns casos pode ser melhor deixar os pacientes ficarem anêmicos do que lhes dar o sangue de alguma outra pessoa, especialmente se esse sangue estiver armazenado há algum tempo, e esse quase sempre é o caso.

Quando um banco de sangue recebe um pedido, normalmente despacha o sangue mais antigo primeiro, para usar o estoque antes de expirar, e como resultado praticamente todo mundo recebe sangue velho.
Para piorar, descobriu-se que até a transfusão de sangue fresco na verdade atrapalha o desempenho do sangue existente no corpo do receptor. É aí que entra o óxido nítrico. “Quando você está sentado, não precisa de tanto sangue nas pernas, porque não existe muita exigência de oxigênio nos tecidos. Mas se você pula e começa a correr, vai precisar de muito mais sangue ali rapidamente. Os seus glóbulos vermelhos, usando óxido nítrico como molécula sinalizadora, determinam em grande parte para onde despachar o sangue, conforme as exigências do corpo mudam momento a momento. A transfusão confunde o sistema de sinalização. Atrapalha o funcionamento.”
Por enquanto, o melhor a fazer é simplesmente reduzir o volume de transfusões de sangue. Em um experimento nos hospitais da Stanford na Califórnia, os médicos foram encorajados a diminuir os pedidos de transfusão de hemácias, a não ser quando absolutamente necessário. Em cinco anos, as transfusões no hospital caíram em um quarto. O resultado não representou apenas uma economia de 1,6 milhão de dólares, mas menor mortalidade, altas mais rápidas e redução nas complicações pós-operatórias.
Pense em como são espasmódicos e artificiais, na maioria, os robôs que já vimos — como seu caminhar é trôpego, como são periclitantes para subir degraus ou andar em solo irregular, como ficariam irremediavelmente desconcertados se tentassem acompanhar um humano de três anos de idade em um parquinho — e isso lhe dará uma ideia da consumada criação que somos nós.
“O osso é mais resistente que concreto reforçado”, afirma Ben, “e mesmo assim leve o bastante para nos permitir correr em velocidade.” […]Todas essas coisas — músculos, ossos, tendões e assim por diante — trabalham juntas numa destra e magnífica coreografia.
Sir Charles Bell, o grande cirurgião e anatomista do século XIX, considerava a mão humana a criação mais perfeita do corpo — mais até do que o olho. Ele chamou seu texto clássico de The Hand: Its Mechanism and Vital Endowments as Evincing Design [A mão: seu mecanismo e dons vitais como desígnio demonstrável], com o que queria dizer que a mão era uma prova da criação divina.
Como já se observou muitas vezes, não há provavelmente um único órgão ou sistema no corpo que não se beneficiem do exercício [físico]. Se alguém inventasse uma pílula que pudesse fazer por nós tudo que uma quantidade moderada de exercício consegue, ela se tornaria instantaneamente a droga de maior sucesso da história.
[…] Boa parte do que acontece no sistema imune em nível celular ainda não é muito bem compreendida. E muita coisa não é compreendida de forma alguma
Estamos na situação historicamente extraordinária de haver muito mais gente no planeta sofrendo de obesidade do que de fome. […] Nos Estados Unidos convivemos com a situação bizarra e paradoxal de ter os cidadãos mais superalimentados do mundo e ao mesmo tempo os de maior deficiência nutricional.

“Em princípio, é muito simples”, diz. “Comer menos açúcar, menos grãos refinados e mais produtos vegetais. É essencialmente uma questão de priorizar as coisas boas e evitar comer as ruins. Não precisa ser especialista pra isso.”
Você deixa o útero estéril, ou assim se pensava, mas é prodigamente lambuzado com o complemento pessoal materno de micróbios conforme se move pelo canal de parto. Mal começamos a compreender a importância e a natureza do microbioma vaginal feminino. Bebês nascidos de cesárea perdem esse banho inaugural. As consequências podem ser profundas. Vários estudos mostraram que pessoas nascidas de cesárea apresentavam risco substancialmente aumentado para diabetes tipo 1, asma, doença celíaca e até obesidade, e risco oito vezes maior de desenvolver alergias.
Existe evidência de que ao dar de mamar a mãe absorve parte da saliva do bebê pelos dutos mamários, e isso é analisado pelo sistema imune, que ajusta a quantidade e os tipos de anticorpos que ela fornece ao bebê segundo as necessidades dele. A vida é ou não é maravilhosa? […] Embora o leite em pó tenha melhorado bastante ao longo dos anos, nenhum produto pode reproduzir por completo os benefícios imunológicos do leite materno.

Um estudo no Reino Unido descobriu que uma em cada três mulheres com câncer de mama recebe tratamentos que podem deixá-la mutilada desnecessariamente e até abreviar sua vida. As mamografias são com certeza um terreno movediço. Fazer a leitura correta é um desafio — bem maior do que a maioria dos médicos se dá conta.
Vivemos numa era em que o que nos mata, na maior parte das vezes, é o estilo de vida. Estamos com efeito escolhendo o modo como morreremos, embora sem dedicar ao assunto a devida reflexão.
Quase metade da população com cinquenta anos ou mais sofre de dor crônica ou incapacitação. Nos tornamos bons em aumentar a vida, mas não necessariamente em aumentar a qualidade de vida.
Não temos a menor ideia de por que envelhecemos — ou, para falar a verdade, temos muitas, simplesmente não sabemos se alguma delas é correta.