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Música Construção, de Chico Buarque

SOBRE A MÚSICA

A música Construção foi lançada em 1971. Seu autor é Chico Buarque, um dos nomes mais importantes da música brasileira. A canção conta a história de um pedreiro. Ele sai para trabalhar, sofre um acidente e morre de forma banal, como se fosse apenas mais um entre tantos.

Um dos pontos mais marcantes da música é a forma como foi escrita. Cada estrofe repete a mesma estrutura, mas a última palavra de cada verso muda. Essa técnica, criativa e impactante, reforça a ideia de repetição da vida do trabalhador: uma rotina que se repete, muda em pequenos detalhes, mas sempre termina do mesmo jeito — de forma trágica.

Construção é considerada por muitos estudiosos uma obra-prima. A música é estudada em escolas, universidades e livros sobre literatura e música. Em 2009, foi eleita pela revista Rolling Stone Brasil como a melhor música brasileira de todos os tempos.

Escute e conheça a letra da música.

POR QUE EU GOSTEI DA MÚSICA

Infelizmente, ainda existem muitas injustiças no mundo do trabalho. Muitos enfrentam longas jornadas, em condições perigosas, sem reconhecimento ou valorização. Isso acontece não só na construção civil e nas fábricas, mas também no comércio e na chamada “indústria do turismo”, que é muito forte em cidades como Porto Seguro, Salvador e Rio de Janeiro. Nesses contextos, é comum ver pessoas sendo exploradas, trabalhando muito e ganhando pouco, como se fossem peças facilmente substituíveis.

Vale a pena assistir a esse vídeo curto da professora Clara Jorgewich! Ela faz uma ótima análise dos aspectos técnicos e da mensagem música.

Como esses problemas são comuns, muita gente acaba achando que é “normal”. E é aí que entra o valor da arte. Boas obras de arte conseguem nos sensibilizar. Fazem a gente olhar com mais atenção para a dor do outro — alguém como nós, mas que talvez viva de forma muito mais dura.

A música Construção é um ótimo exemplo disso. Com uma letra bem elaborada, melodia forte e uma técnica poética sofisticada, Chico Buarque nos faz refletir sobre a condição de quem é tratado meramente como uma máquina. Quando essa “máquina” quebra — seja por morte ou doença — ela é substituída, e tudo continua, como se nada tivesse acontecido. A dimensão humana desses trabalhadores é ignorada por um sistema frio, desigual e opressor.

Gosto de discutir essa música com alunos do ensino médio. Ela se relaciona com temas do Realismo, movimento literário do século XIX. O Realismo buscava mostrar a realidade com mais objetividade. Os escritores desse movimento deram destaque a personagens das camadas populares — trabalhadores, operários, gente comum. Tal postura foi inédita na história da literatura ficcional.

É exatamente o que vemos em Construção. O personagem principal não faz parte da elite. Ele representa milhões de pessoas esquecidas e desvalorizadas. As conversas que já tive com meus alunos  sobre essa música foram muito ricas.

Por tudo isso, vale muito a pena conhecer e refletir sobre essa canção. Ela tem uma melodia marcante, uma construção poética apurada e uma letra riquíssima de conteúdo. Recomendo!


TRECHOS DA MÚSICA PARA SABOREAR

“Subiu a construção como se fosse máquina”
Mostra como o trabalhador é visto apenas como parte de uma engrenagem. Sua humanidade é ignorada.

“Agonizou no meio do passeio público / Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”
“Morreu na contramão atrapalhando o público”
A morte do operário é tratada como um incômodo. O que importa não é a vida perdida, mas o transtorno que ela causou ao trânsito ou ao público.

“Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo”
Mostra como as alegrias do trabalhador são simples e, muitas vezes, suas expectativas de vida são mínimas.