SOBRE O LIVRO
Publicado em 2000, Modernidade Líquida é uma das obras mais conhecidas do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos intelectuais mais respeitados do século XX. Bauman, que faleceu em 2017, fez reflexões profundas sobre a sociedade, o consumo, as relações humanas e os desafios do mundo globalizado. Nesse livro, ele apresenta a metáfora da “liquidez” para descrever a transição da modernidade sólida para um mundo em constante movimento, onde tudo parece passageiro e instável.
A repercussão da obra foi marcante. Modernidade Líquida conquistou leitores de diversas áreas, sendo valorizado tanto no meio acadêmico quanto por aqueles que buscam compreender melhor o mundo atual. Um reflexo de sua popularidade é o fato de ser um dos livros mais vendidos na categoria Sociologia na Amazon. O livro discute temas como a fragilidade dos vínculos humanos, o papel do consumo como eixo central da vida de muitas pessoas atualmente e a dificuldade de construir identidades duradouras em um mundo que valoriza a mudança constante.

POR QUE EU GOSTEI DO LIVRO
Apreciei a escrita clara, acessível e elegante de Bauman, que consegue abordar temas complexos de forma envolvente e compreensível. O uso de exemplos do cotidiano para fundamentar suas reflexões torna a leitura atraente tanto para estudiosos quanto para o público em geral.
As análises de Bauman sobre a atualidade também chamaram minha atenção, pois estão em sintonia com o que observo ao meu redor. Vivemos em uma era repleta de inovações tecnológicas que impressionam e fascinam em muitos aspectos. Contudo, esse mesmo mundo é marcado pelo predomínio do egoísmo e do materialismo. Os vínculos entre as pessoas estão cada vez mais frágeis, enquanto sentimentos de pessimismo em relação ao futuro são comuns.
A empatia e a solidariedade são cada vez mais escassas, reflexos de uma grave crise de valores que muitos reconhecem. Com sensibilidade, Bauman nos convida a refletir sobre esse cenário desafiador, despertando a necessidade de repensar atitudes e posturas. Recomendo a leitura para todos que desejam compreender melhor os desafios do mundo atual.
Seguem vídeos curtos com comentários esclarecedores sobre o autor Zygmunt Bauman e o conceito de modernidade líquida:
TRECHOS DO LIVRO PARA SABOREAR
Interrupção, incoerência, surpresa são as condições comuns de nossa vida. Elas se tornaram mesmo necessidades reais para muitas pessoas, cujas mentes deixaram de ser alimentadas por outra coisa que não mudanças repentinas e estímulos constantemente renovados. Não podemos mais tolerar o que dura. Não sabemos mais fazer com que o tédio dê frutos.
Bill Gates, no entanto, não sente remorsos quando abandona posses de que se orgulhava ontem; é a velocidade atordoante da circulação, da reciclagem, do envelhecimento, do entulho e da substituição que traz lucro hoje — não a durabilidade e confiabilidade do produto.
A verdade que torna os homens livres é, na maioria dos casos, a verdade que os homens preferem não ouvir.
A proposição do próprio Sennett é direta: “Imaginar uma vida de impulsos momentâneos, de ações de curto prazo, destituída de rotinas sustentáveis, uma vida sem hábitos, é imaginar, de fato, uma existência sem sentido.
O indivíduo é o pior inimigo do cidadão, sugeriu ele. O “cidadão” é uma pessoa que tende a buscar seu próprio bem-estar através do bem-estar da cidade — enquanto o indivíduo tende a ser morno, cético ou prudente em relação à “causa comum”, ao “bem comum”, à “boa sociedade” ou à “sociedade justa”
O “público” é colonizado pelo “privado” o “interesse público” é reduzido à curiosidade sobre as vidas privadas de figuras públicas e a arte da vida pública é reduzida à exposição pública das questões privadas e a confissões de sentimentos privados (quanto mais íntimos, melhor). As “questões públicas” que resistem a essa redução tornam-se quase incompreensíveis.
Para o indivíduo, o espaço público não é muito mais que uma tela gigante em que as aflições privadas são projetadas sem cessar, sem deixarem de ser privadas ou adquirirem novas qualidades coletivas no processo da ampliação: o espaço público é onde se faz a confissão dos segredos e intimidades privadas.
E assim o espaço público está cada vez mais vazio de questões públicas. O que cada vez mais é percebido como “questões públicas” são os problemas privados de figuras públicas.
O mundo cheio de possibilidades é como uma mesa de bufê com tantos pratos deliciosos que nem o mais dedicado comensal poderia esperar provar de todos. Os comensais são consumidores, e a mais custosa e irritante das tarefas que se pode pôr diante de um consumidor é a necessidade de estabelecer prioridades: a necessidade de dispensar algumas opções inexploradas e abandoná-las. A infelicidade dos consumidores deriva do excesso e não da falta de escolha. “Será que utilizei os meios à minha disposição da melhor maneira possível?” é a pergunta que mais assombra e causa insônia ao consumidor.
Doenças são individuais, assim como a terapia; as preocupações são privadas, assim como os meios de lutar para resolvê-las. Os conselhos que os conselheiros oferecem se referem à política-vida, não à Política com P maiúsculo; eles se referem ao que as pessoas aconselhadas podem fazer elas mesmas e para si próprias, cada uma para si — não ao que podem realizar em conjunto para cada uma delas, se unirem forças.
Em um dos maiores sucessos entre os popularíssimos livros de autoajuda (vendeu mais de cinco milhões de cópias desde sua publicação em 1987), Melody Beattie adverte/aconselha seus leitores: “A maneira mais garantida de enlouquecer é envolver-se com os assuntos de outras pessoas, e a maneira mais rápida de tornar-se são e feliz é cuidar dos próprios.” (ou seja, Bauman critica o fato de os livros de autoajuda geralmente não incentivarem a empatia e a preocupação com o próximo).
Nos programas de entrevistas, palavras e frases que se referem a experiências consideradas íntimas e, portanto, inadequadas como tema de conversa são pronunciadas em público — para aprovação, divertimento e aplauso universais. Pela mesma razão, os programas de entrevistas legitimam o discurso público sobre questões privadas. Tornam o indizível dizível, o vergonhoso, decente, e transformam o feio segredo em questão de orgulho.
Ainda que possa ser algo mais, o comprar compulsivo é também um ritual feito à luz do dia para exorcizar as horrendas aparições da incerteza e da insegurança que assombram as noites.