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Engenheiros do Hawaii e Dom Quixote

SOBRE A MÚSICA

A música “Dom Quixote”, lançada pelos Engenheiros do Hawaii em 2003, é uma prova da excelente bagagem cultural do compositor Humberto Gessinger. Inspirado em um dos maiores clássicos da literatura mundial, Gessinger criou uma canção rica de conteúdos e significados.

A seguir, apresento algumas informações para contextualizar a música.

Escute a música no YouTube.

A banda Engenheiros do Hawaii

A banda foi muito popular entre as décadas de 80 e 90. Músicas como “O Papa é Pop”, “Infinita Highway”, “Pra Ser Sincero” e “Era um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones”, dentre outras, fizeram enorme sucesso e até hoje são apreciadas. Letras inteligentes que combatiam a alienação, referências literárias e uma sonoridade original foram alguns dos elementos que consagraram a banda junto ao público e à crítica. Mesmo após esse auge, os Engenheiros mantiveram uma base de fãs fiel e uma produção musical importante. A música  “Dom Quixote” é um exemplo disso.

A mensagem da música

A música  Dom Quixote ressalta importância de manter a pureza de coração e não perder a esperança, mesmo em um mundo frio e injusto. A letra também convida à reflexão sobre a necessidade de preservar bons valores, sem se deixar levar pelo que a maioria faz ou pelo medo. Ao mesmo tempo, a canção reconhece a fragilidade humana e a existência de “causas perdidas” do ponto de vista humano.

Sobre o livro que inspirou a música

“O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha”, ou simplesmente Dom Quixote, é uma das obras mais importantes da literatura mundial. Para se ter uma ideia de sua relevância, pesquisas indicam que esse é o segundo livro mais traduzido do mundo, superado apenas pela Bíblia.

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O livro, escrito no século XVII, conta a história de Alonso Quijano, um nobre do campo que, de tanto ler histórias fantasiosas nos romances de cavalaria, enlouquece e decide se tornar um cavaleiro andante. Ele se envolve em diversas aventuras, ao mesmo tempo engraçadas e perigosas, na tentativa de corrigir as injustiças do mundo. Dom Quixote lembra, nos dias de hoje, aquelas pessoas que ficam o tempo todo assistindo novelas ou navegando nas redes sociais, a ponto de acreditar que tudo o que veem na ficção pode ser vivido na vida real. Essa confusão entre fantasia e realidade pode trazer consequências sérias — como aconteceu com Dom Quixote.

Além do humor, encontramos no livro profundas reflexões sobre o sentido da vida. Pretendo fazer em breve um post exclusivo sobre esta obra, que eu recomendo bastante.

A conexão da música com a obra literária

A letra da música faz muitas alusões ao clássico literário. Por exemplo, o eu-lírico se descreve como um “otário” que está “fora do páreo”, assim como Dom Quixote era visto como um louco em sua sociedade. O eu-lírico na música se apresenta também como um “peixe fora d’água” e uma “borboleta no aquário”, indicando que se sente deslocado em um mundo que para ele é hostil. Dom Quixote no livro é descrito do mesmo modo. A vontade de viver um ideal que a maioria não respeita é a essência dos dois personagens. A canção fala  ainda do amor a “causas perdidas” e em “enfrentar moinhos de vento”, que são referências bem diretas a trechos do livro. 

Dom Quixote ataca um moinho de vento acreditando estar enfrentando um gigante.

POR QUE EU GOSTEI DA MÚSICA

Gostei principalmente por ter sido inspirada em uma obra literária que eu gosto bastante. Na minha opinião, a música resgata  até certo ponto o espírito do protagonista do livro: uma pessoa ingênua, idealista, vista como estranha pelos seus contemporâneos. Tanto a música quanto o livro transmitem a mensagem de que nem sempre é sensato seguir as atitudes e tendências do sistema. Vale a pena ter a coragem de ser diferente e promover valores como honra e justiça, mesmo que isso signifique certa rejeição social. 

Além disso, a música é enriquecida por uma melodia marcante e pela voz ímpar do vocalista Humberto Gessinger. Destaco também a sua atualidade. A música foi composta há duas décadas, mas temas como alienação, a coragem de remar contra a maré e os conflitos entre sonho e realidade continuam estimulando profundas reflexões.

Por fim, vejo que tanto o livro como a música se unem para estimular um equilíbrio entre perseverança e bom senso. Perseverança por não abrirmos mão da nossa identidade e valores para satisfazer um sistema frio e materialista. E bom senso por nos fazer reconhecer nossas limitações. Dom Quixote não teve esse discernimento e acabou sofrendo muito. Esperança e coragem são fundamentais, mas a modéstia tem seu lugar. Simplesmente não podemos mudar o mundo sozinhos, e há causas que, pelo menos do ponto de vista humano, são, de fato, “perdidas”. Reconhecer isso é importante para preservar a saúde mental.

Vale a pena apreciar essa música!