REFERÊNCIAS DA REPORTAGEM PARA LEITURA NA ÍNTEGRA
SAMPAIO, Henrique. Do textão ao ChatGPT: dificuldade da geração Z com teclados físicos revela uma crise da escrita. O Estado de S. Paulo, 27 de junho de 2025. Acesso em: 28 de junho de 2025.
RESUMO DA REPORTAGEM
A reportagem, escrita por Henrique Sampaio, discute um fenômeno preocupante: a perda gradual da capacidade de escrever e da autonomia intelectual entre os jovens da chamada geração Z, ou seja, indivíduos nascidos entre 1995 e 2010. Essa geração é considerada nativa digital, ou seja, engloba indivíduos que já nasceram em um mundo marcado por tecnologias digitais. No entanto, muitos desses jovens demonstram dificuldades para digitar com agilidade em teclados físicos. Essa dificuldade revela mudanças profundas no modo como a juventude vem lidando com a leitura, a escrita e o pensamento.
Cada vez mais, tarefas que exigiam concentração e organização textual vêm sendo substituídas por produções rápidas, visuais e fragmentadas com ferramentas de inteligência artificial. O problema, porém, não é o uso da tecnologia em si, mas a forma como ela tem ocupado o lugar da reflexão e do processo criativo do ser humano.
Especialistas ouvidos pela reportagem alertam para uma “terceirização da inteligência”. Ao confiar completamente na IA para produzir textos, os jovens deixam de desenvolver habilidades fundamentais, como planejar, argumentar e reescrever. O professor Pablo Vallejos aponta que essa delegação do pensamento às máquinas se constitui em uma espécie de uma colonização da mente humana sendo executada por uma “inteligência sintética”. Essa situação contribui para um enfraquecimento do intelecto humano.
A reportagem também destaca mudanças na forma como a informação circula nas redes sociais. Textos longos deram lugar a vídeos curtos, conteúdos imediatistas e mensagens visuais. Esse novo padrão, incentivado pelas próprias plataformas, tem dificultado a concentração dos alunos e reduzido o tempo de atenção em sala de aula — o que influencia diretamente no aprendizado e na construção do pensamento complexo.
Diante desse cenário desafiador, estudiosos citados na reportagem sugerem caminhos para lidar com essa situação. Professores como Filipe Mantovani, do IFSP, por exemplo, exigem que as redações dos seus alunos sejam sempre feitas à mão. Para ele, escrever é essencial para a formação de um bom cidadão.
A reportagem conclui afirmando que tecnologias como a IA vieram para ficar. Não é sábio tentar bani-la. Mas é importante que os jovens sejam orientados a usá-las com sabedoria. A IA pode ser uma aliada, desde que os estudantes saibam fazer boas perguntas, revisar, adaptar e, principalmente, preservar sua identidade.

POR QUE EU GOSTEI DA REPORTAGEM
Um dos aspectos que me agradou foi a atualidade e a importância do tema abordado. Sou professor, convivo com muitos jovens e, de fato, percebo como o uso excessivo e inadequado das tecnologias digitais e da inteligência artificial tem afetado negativamente a escrita e a capacidade intelectual de muitos deles. Por isso, considero essencial que pais, estudantes e educadores reflitam sobre esse assunto — e a reportagem incentiva essa reflexão de forma bastante habilidosa.
Também gostei do fato de a matéria ter ido além da simples constatação do problema. Ela discute as causas dessa dificuldade crescente com a escrita e mostra que a questão é mais profunda e complexa do que parece à primeira vista. Isso enriquece o conteúdo.
Outro ponto positivo é que a reportagem apresenta opiniões de professores, pesquisadores e profissionais conceituados da área da educação. Isso dá ainda mais credibilidade ao texto.
A clareza da linguagem também merece destaque. A matéria é escrita de forma acessível, o que permite que um público variado — inclusive estudantes do ensino básico e leitores com um nível razoável de leitura — possa compreendê-la com tranquilidade.
Achei equilibrada a forma como a reportagem trata o uso da inteligência artificial. Concordo com a postura de não demonizar a tecnologia, mas usá-la com bom senso e senso crítico. O importante é que cada pessoa mantenha sua autoria e não deixe de praticar a escrita — inclusive a cursiva, à mão. Escrever à mão continua sendo um excelente exercício intelectual. Considero, por exemplo, uma ótima ideia escrever cartas manuscritas para pessoas queridas: um amigo, um familiar… . Receber uma carta escrita à mão tem um impacto emocional muito maior do que uma simples mensagem digitada. E, além disso, ativa o cérebro de forma mais intensa do que digitar em um teclado virtual.

Enfim, recomendo a leitura da reportagem Dificuldade da geração Z com teclados físicos revela uma crise da escrita. Ela trata de um tema atual, é bem escrita, bem pesquisada e nos convida a refletir e a exercitar nossa capacidade intelectual. Recomendo!
TRECHOS DA REPORTAGEM PARA SABOREAR
[Está ocorrendo entre os jovens] uma perda gradual de autonomia intelectual, escrita crítica e raciocínio estruturado, num cenário dominado por plataformas digitais, textos instantâneos e inteligências artificiais cada vez mais presentes.
Para o professor e pesquisador Pablo Vallejos, doutor em Comunicação pela PUC-Rio, há um processo de terceirização da inteligência em curso. “Digitar, desenhar, escrever com letra cursiva são produções de sentido coreografadas entre o cérebro, o corpo e os instrumentos. Se uma inteligência sintética ocupa o teu lugar de protagonismo, você está sendo dominado, está passando por um processo de colonização dessa tecnologia.”
Para o professor Pablo Vallejo, o que está em jogo, portanto, não é apenas a técnica de digitar ou escrever, mas a capacidade de pensar com profundidade, de argumentar e de organizar ideias com começo, meio e fim.
As interfaces, os emojis, os áudios acelerados, tudo isso encurta a fabricação do sentido. Em vez de discorrer sobre meus medos e ansiedades, eu envio uma figurinha da Gretchen. E essa miniaturização da comunicação atrofia nossa capacidade de argumentação.”

“Às vezes gastamos 30 minutos discutindo um poema. A questão é: quantos alunos conseguem manter a atenção por esse tempo?”, diz Mantovani. “O tédio sempre existiu, mas a impressão é que agora está pior.”
Precisamos resistir à ideia de que todo conteúdo pode virar um vídeo de 20 segundos. Há temas que exigem tempo, paciência e aprofundamento. Se a gente achata tudo, a gente empobrece a educação.” (Filipe Mantovani, doutor em Letras pela USP)
“As plataformas digitais têm seu papel, mas não podemos permitir que substituam a capacidade de pensar, questionar, criar. Quando todos começamos a acelerar nossos vídeos, cortar nossas pausas, escrever menos, a gente perde a chance de se escutar. De se entender. De se comunicar de verdade.” (professor Pablo Vallejos)