SOBRE O LIVRO
O Brasil que Pedala: A Cultura da Bicicleta nas Cidades Pequenas, lançado em 2018, é um livro organizado por André Soares e Daniel Guth. O projeto contou com a participação de várias organizações ligadas ao uso da bicicleta, como a Aliança Bike, União de Ciclistas do Brasil (UCB), Bike Anjo e Bicicleta para Todos, com apoio do banco Itaú.
O principal objetivo do livro é mostrar como a bicicleta faz parte do dia a dia de cidades brasileiras com menos de 100 mil habitantes. Para isso, os autores realizaram pesquisas em 11 cidades espalhadas por diferentes regiões do Brasil: Afuá (PA), Antonina (PR), Cáceres (MT), Gurupi (TO), Ilha Solteira (SP), Mambaí (GO), Pedro Leopoldo (MG), Pomerode (SC), São Fidélis (RJ), Tamandaré (PE) e Tarauacá (AC).
Cada capítulo apresenta dados como entrevistas com moradores, contagem de veículos, perfis de ciclistas e informações sobre a cidade. A intenção é entender como as pessoas usam a bicicleta, quais são os desafios e como esse meio de transporte pode melhorar a mobilidade, a saúde e até o meio ambiente.
O livro também alerta para um problema atual: o crescimento do uso das motos e outros veículos motorizados e os efeitos negativos disso nas cidades.

POR QUE EU GOSTEI DO LIVRO
Achei a proposta do livro importante. Ele incentiva um estilo de vida mais saudável e menos poluente. Num mundo marcado por sedentarismo, obesidade e doenças como diabetes e câncer, a prática de atividades físicas se torna cada vez mais necessária. O livro ajuda a promover essa ideia.
Uso bicicleta todos os dias e posso afirmar, com experiência própria: pedalar faz bem. É prazeroso, saudável e muito eficiente. Vale ressaltar que a bicicleta, do ponto de vista energético, é o melhor meio de transporte já inventado pelo homem. Um estudo famoso, realizado na década de 70, revelou que um ser humano em uma bicicleta é mais eficiente do que qualquer máquina ou animal em termos de energia consumida por quilômetro percorrido. Assim, incentivar o uso de bikes, como faz o livro O Brasil que pedala, é uma iniciativa altamente recomendável.
Gostei também das descrições das cidades e das entrevistas com os moradores. Tudo foi feito com cuidado e dedicação. É interessante a descrição que o livro faz de alguns hábitos e aspectos culturais de diferentes regiões do Brasil, tendo a bicicleta como ponto central.
Outro ponto positivo é que o livro não romantiza. Ele mostra os problemas das cidades, como o aumento do número dos veículos motorizados na maioria das cidades pesquisadas e as dificuldades enfrentadas pelos ciclistas. Mesmo assim, destaca que a cultura da bicicleta ainda resiste com força em muitos lugares. Merece elogios também os diversos levantamentos estatísticos e análises bem fundamentadas feitos pelos autores. Isso dá credibilidade ao conteúdo.
Por tudo isso, recomendo a leitura. O livro O Brasil que Pedala ressalta que a bicicleta é um meio de transporte que reúne “três Bs”: é bom para a saúde, bom para o bolso e bom para o planeta.

TRECHOS DO LIVRO PARA SABOREAR
“Em muitas cidades brasileiras, a bicicleta ainda resiste, por motivos diversos. As distâncias são menores nas cidades pequenas: possuem menos de 7 quilômetros de diâmetro, perímetro no qual a bicicleta é considerada o meio de transporte mais eficiente. As cidades grandes, com território extenso, podem se basear nas cidades pequenas, uma vez que também nas metrópoles grande parte dos deslocamentos ocorre em curtas e médias distâncias (dentro de um bairro ou entre bairros vizinhos): na ida para o trabalho, para o estudo, para as compras etc.”
(Por que as pessoas deveriam usar mais a bicicleta também nas cidades grandes.)
“Este livro foi concebido para trazer à tona essa realidade desconhecida para muitos brasileiros e para contrastá-la com a grave situação das grandes cidades, oferecendo-lhes uma alternativa possível, real. Também pretendemos prestar uma homenagem às cidades menores, usuárias da bicicleta, e a seus habitantes, e publicamente declarar o valor da cultura que preservam.”
(Objetivo do livro: valorizar o uso da bicicleta como um meio sustentável de mobilidade.)
“Não cansamos de repetir que a bicicleta é um dos meios de transporte mais eficientes já inventados. É um veículo movido à propulsão humana, altamente eficiente no consumo de energia, com baixo custo operacional, de aquisição e manutenção; e requer pouco espaço para circular e estacionar. […] Que o impacto ambiental da sua utilização é baixíssimo, pois não produz emissões de gases poluentes nem ruídos.”
(Por que vale muito a pena usar a bicicleta no dia a dia.)
“A bicicleta nos dá uma chance de nos reconectarmos aos locais, às pessoas, aos trajetos e às memórias coletivas. […] A bicicleta é, afinal, o que faz de algumas cidades, boas cidades. […] Não é à toa que no capítulo sobre Afuá/PA, o que me chama mais atenção é exatamente o fato de que com a bicicleta, ‘a autonomia das crianças é conquistada desde cedo’.”
(A bicicleta aproxima as pessoas, melhora a cidade e promove saúde e autonomia desde cedo.)
“Todo mundo pedala em Afuá e quem não está pedalando ou segue de carona (em uma bicicleta, claro) ou está caminhando. […] Afuaenses comem em casa. As curtas distâncias, a praticidade de ir e vir com as bicicletas e o encontro diário em volta da mesa são marcas indeléveis da cultura local.”
(Aspectos marcantes da cultura de Afuá.)
“Não há sinalização de trânsito em Afuá. Não há fiscalização feita por agentes de trânsito, não existem ‘autoescolas’ para ciclistas. […] Impressiona, contudo, o domínio que têm sobre as bicicletas e sobre seus corpos em movimento.”
(A incrível organização do trânsito em Afuá, mesmo sem regras escritas ou fiscalização.)
“Espaços públicos e privados se confundem em Afuá. […] Pela intensa vida nas ruas, pelos lotes ligados às passarelas públicas, pela ausência de muros e pelo desejo de interação social.”
(Como a arquitetura e os costumes de Afuá favorecem o convívio e a vida comunitária.)
“1. Para emergências médicas, existe a bicilância. 2. Para sinais de incêndio, há um quadriciclo dos bombeiros com mangueira. 3. Para quem não pode pedalar, há o bicitáxi. 4. Para curtir a noite com som alto, um quadriciclo que imita carro.”
(Modelos criativos de transporte em Afuá — todos sem motor!)
“Não tenho vontade de trocar minha bicicleta por carro ou moto, a cidade é boa de pedalar. Digo às pessoas que continuem utilizando a bicicleta, porque possibilita atividade física, não dá despesa e é um veículo fácil de estacionar. […] Não polui nem danifica as ruas.”
(Opinião de João Rodrigues, morador de Tarauacá – exemplo de quem valoriza a bike como meio de transporte simples e eficiente.)
“Eu e um amigo meu sempre fazíamos isso, buscar novos lugares através da bicicleta […] Quando você sobe na bike, você sente o ar, sente o ambiente. Você tá no meio, mesmo. […] A bicicleta pra nós era muito bom.”
(Depoimento de Mauro Júnior, de Antonina – o prazer de explorar o mundo sobre duas rodas.)
“São constantes os relatos de pessoas que tiveram lesões graves e que, ao adotar a bicicleta como prática esportiva e saudável, além de melhorarem sua condição física, também passaram a adotá-la como meio de transporte cotidiano.”
(A bicicleta ajuda na recuperação física, comenta Gabriela Camarco, também de Antonina.)
“Eu utilizo a bicicleta por saúde e por não concordar com o trânsito brutal das cidades. E muitas doenças são oriundas do sedentarismo.”
(Opinião de Philipe Ramos Pedrosa, de Gurupi – pedalar é um ato de saúde e resistência.)
“Aqui, está presente um perfil de ciclista oposto ao tradicional (aquele que utiliza a bicicleta por não possuir recursos para adquirir veículo automotor). São consumidores conscientes, que, apesar de possuir ou poder adquirir outros veículos, veem o uso da bicicleta como estilo de vida.”
(A bicicleta como escolha consciente, e não apenas por necessidade.)
“Cidades que se pretendem seguras, sustentáveis, vivas e saudáveis têm que partir do princípio de que a existência da vida urbana e humana no território é condicionada pelas oportunidades e condições que permitem às pessoas caminharem.”
(Para uma cidade ser verdadeiramente humana, é importante que ela favoreça o caminhar e o pedalar.)