REFERÊNCIAS DA ENTREVISTA PARA LEITURA NA ÍNTEGRA
BETTI, Renata. Sob o comando dos algoritmos. Revista Veja, 07 jan. 2015. Entrevista com o matemático Edward Frenkel. Disponível em: https://veja.abril.com.br/
SOBRE A ENTREVISTA
Recomendo a leitura da entrevista concedida por Edward Frenkel, considerado um dos maiores pensadores da matemática moderna. Costumo utilizar esse conteúdo com alunos do ensino médio, e o texto sempre é bem recebido. Alguns colegas professores também demonstraram grande apreço pelo material.
Na entrevista, Frenkel destaca que muitas pessoas detestam matemática porque tiveram contato apenas com uma fração muito limitada e mal apresentada na escola. Para ele, a matemática deveria ser ensinada de forma mais próxima do cotidiano. Ela está presente, por exemplo, em fenômenos naturais — como tsunamis, a formação das nuvens e a movimentação das placas tectônicas — e também no mundo digital, onde algoritmos estão por trás das redes sociais, das compras online e até mesmo dos videogames. No entanto, os sistemas educacionais, inclusive em países ricos como os Estados Unidos, em geral não exploram essas conexões.
Outro ponto central é o perigo da concentração do conhecimento. Grande parte das pessoas desconhece o poder dos algoritmos no universo digital. Sem um mínimo de compreensão sobre o tema, muitos não refletem criticamente antes de tomar decisões. O ensino arcaico praticado em escolas de todo o mundo contribui para essa situação.
Frenkel alerta ainda que máquinas e números podem influenciar comportamentos, mas jamais devem ser vistos como substitutos das emoções e da intuição humanas. O problema é que alguns cientistas e empresas poderosas acreditam que, em qualquer situação, seres humanos podem ser substituídos por máquinas — um pensamento equivocado que pode levar à criação de sistemas artificiais fora de controle.
Por fim, ele ressalta que apenas os seres humanos são capazes de realizar cálculos matemáticos. A matemática é, portanto, parte da essência humana e também uma linguagem universal, com potencial para aproximar povos de diferentes culturas e épocas. Esses fatores, por si só, deveriam motivar mais interesse pelo tema.

POR QUE EU GOSTEI DA ENTREVISTA
Gostei da entrevista porque ela nos motiva a aprender com a natureza e com nossas experiências cotidianas. A natureza é, ao mesmo tempo, complexa e bela, e nela podemos perceber padrões matemáticos. Quando compreendemos isso, passamos a ter mais apreço pela arte presente no mundo ao nosso redor — e o estudo da matemática ganha sentido.
Também gostei da forma como o texto nos incentiva a buscar conhecimento. Aprender conteúdos realmente benéficos nem sempre é fácil, mas os resultados compensam: ficamos menos vulneráveis à manipulação, desenvolvemos melhor o raciocínio e ampliamos nossa capacidade de reflexão.
Ressalto ainda a atualidade da entrevista. Apesar de ter sido publicada há 10 anos, Frenkel já alertava para os riscos de tecnologias que poderiam fugir ao controle humano. Hoje, esse temor é ainda mais presente: o mau uso de ferramentas ligadas à inteligência artificial, como o ChatGPT e o Gemini, representa uma séria ameaça à civilização, segundo estudiosos renomados.

Por fim, vejo que as ideias do autor podem ser aplicadas em outras disciplinas, além da matemática. Por exemplo, na minha área, Língua Portuguesa, também é essencial aproximar o conteúdo do dia a dia dos alunos, e não apenas focar em aspectos gramaticais ou técnicos. Claro, é importante que os estudantes dominem a estrutura gramatical do idioma, mas é ainda mais necessário refletir nas lições que os bons textos nos ensinam . Textos de autores como Shakespeare, Machado de Assis, Graciliano Ramos e Victor Hugo nos ajudam a pensar em questões fundamentais ligadas a essência humana. Refletir nas lições de vida que esses e outros bons textos ensinam torna o ensino da Língua Portuguesa mais atraente e enriquecedor.
Vale muito a pena ler a entrevista na íntegra!
SABOREIE TRECHOS DA ENTREVISTA
- “A principal razão de grande parte das pessoas não gostar de matemática é porque não sabe do que se trata.”
- “O mundo é governado por algoritmos. Eles estão na base de algumas das maiores inovações humanas. […] Por que não aproveitar essas novas situações do cotidiano para chamar atenção para a matemática e explicar como ela funciona, em vez de recorrer a assuntos gastos, que ninguém entende?”
- “Se há algo que algoritmos e máquinas não substituem são as emoções e a capacidade de julgamento — em outras palavras, a intuição.”
- “Determinados cientistas encaram humanos como máquinas e acham que um pode substituir o outro. Quando se pensa assim e se tem muito poder, há um tremendo risco de criar robôs e máquinas sem controle.”
- “Uma aula interessante, eficaz e atual de geometria abordaria fenômenos como a teoria do caos, a formação de nuvens e os movimentos de placas tectônicas que levam à formação de tsunamis.”
- “Em um mundo com tantos conflitos, falamos sempre das coisas que nos separam e raramente encontramos fatos que nos unam. O que apenas os humanos têm em comum? Somos os únicos que fazem cálculos matemáticos.”