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Resenha: 20 mil léguas submarinas

SOBRE O AUTOR

Júlio Verne (1828–1905) foi um escritor francês que marcou a literatura do século XIX e é reconhecido como um dos que iniciaram o gênero de ficção científica. Em suas obras visionárias, ele antecipou tecnologias que a ciência só concretizaria décadas mais tarde, como os submarinos e os foguetes para viagens espaciais tripuladas.

Verne levou seus leitores a lugares fascinantes e, muitas vezes, inexplorados: das profundezas do oceano, como em 20 Mil Léguas Submarinas, ao espaço sideral, como em Da Terra à Lua, passando por florestas densas e exóticas, incluindo a Amazônia, em A Jangada. Suas histórias também atravessaram diferentes países e culturas, ampliando o horizonte de seus leitores e estimulando o espírito de descoberta.

Tive o prazer de ler vários livros de Júlio Verne, e cada leitura foi uma experiência repleta de ação, suspense, aprendizados e lições valiosas. Suas histórias estimulam a imaginação e deixam boas lembranças em quem as lê. No blog Sabores Literários, além deste post sobre 20 Mil Léguas Submarinas, pretendo futuramente comentar outras obras desse ótimo autor.

SOBRE O LIVRO VINTE MIL LÉGUAS SUBMARINAS

Publicado em 1870, 20 Mil Léguas Submarinas é uma das obras mais famosas de Júlio Verne e um marco na literatura de ficção científica. Escrito em um contexto de grandes avanços tecnológicos e descobertas geográficas, o livro reflete o entusiasmo do autor pela ciência e pelo desconhecido. O livro, que tem entre 300 e 500 páginas, dependendo da edição, conta a história do professor Aronnax e seu fiel assistente Conseil e do arpoador Ned Land, que são capturados pelo misterioso Capitão Nemo, comandante do submarino Nautilus. Juntos, eles exploram as profundezas dos oceanos, enfrentando criaturas gigantes e desvendando segredos dos mares.

O romance combina aventura e suspense com descrições científicas detalhadas, antecipando tecnologias como os submarinos modernos. 20 Mil Léguas Submarinas foi adaptado diversas vezes para o cinema, sendo a versão da Disney de 1954 uma das mais famosas. Além disso, a obra inspirou peças de teatro, programas de TV e histórias em quadrinhos.

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POR QUE EU GOSTEI DO LIVRO

Nunca fiz uma viagem ao fundo do mar. Mas, ler esse livro me ajudou a imaginar as maravilhas desse universo submerso e a “viajar” no fundo do mar sem sair do conforto de minha casa. As descrições de Júlio Verne são belíssimas e estimulam a mente a pensar na vastidão e na enorme variedade de seres vivos do mundo submarino.

A construção dos personagens também me agradou muito. Por exemplo, o professor Aronnax é um cientista talentoso e dedicado. A sua dedicação à leitura e às pesquisas do mundo oceânico o ajuda lidar com a situação de ser prisioneiro no Nautilus. Já o Capitão Nemo é um personagem fascinante, misterioso e profundamente amargurado por ter sofrido injustiças no passado. Ele decide se afastar da civilização e leva uma vida solitária nas profundezas do oceano, a bordo de seu impressionante submarino.

Além disso, a história é envolvente, cheia de mistério, suspense e aventura. Destaco momentos marcantes, como a batalha contra um polvo gigante, a fuga de uma tribo de canibais e as jornadas por regiões congeladas, onde o Nautilus quase é esmagado por massas de gelo.

Uma dica: o livro contém muitas descrições científicas sobre a vida marinha e aspectos geográficos do fundo do mar. Esses trechos podem parecer entediantes para leitores menos acostumados com esse tipo de linguagem, mas meu conselho é que não desistam! Tais trechos enriquecem o vocabulário e ajudam a criar uma imagem mais clara das cenas descritas. O esforço vale a pena, especialmente porque a história é empolgante, e o final, surpreendente. Por exemplo, o destino do Capitão Nemo é um mistério que só é desvendado em outro livro de Verne, A Ilha Misteriosa. Futuramente, pretendo escrever um post sobre esse livro.

Assim, recomendo a leitura de Vinte mil léguas submarinas. Trata-se de uma distração que estimula a imaginação e nos ajuda a ter ainda mais apreço pelas maravilhas da Criação nos oceanos.

Vale a pena assistir ao vídeo da professora Tatiana Feltrin sobre o livro

TRECHOS DO LIVRO PARA SABOREAR

Os trechos apresentados foram retirados da edição do livro 20 Mil Léguas Submarinas, publicada pela Editora Zahar.

Comentários do escritor Rodrigo Lacerda na apresentação do livro

Em que medida o conhecimento científico liberta os homens? Em que medida ele pode privá-los de valores mais humanísticos, enclausurando-os, por assim dizer, numa prisão existencial? É válido sacrificar a liberdade em nome do avanço científico?

Sabemos que o capitão Nemo culpa a humanidade pela morte da família, daí o desejo de se manter distante da civilização a que outrora pertenceu, degradada, corrompida por interesses mesquinhos e violência. Além disso, ele é um homem de recursos científicos insuperáveis, comprovados pela simples existência do Náutilus. Compreende-se, portanto, que, para ele, seja uma opção aceitável abrir mão da convivência com seus semelhantes, para em troca conhecer todos os segredos dos oceanos.

Trechos do enredo do livro

Sim — disse ele —, o oceano possui uma verdadeira circulação e, para ativá-la, bastou ao Criador de todas as coisas multiplicar nele o calórico, o sal e os animálculos.

Não é de novos continentes que a terra precisa, mas de novos homens!

Mas acrescento que os dias da Bíblia (os seis “dias” criativos mencionados nos capítulo iniciais do livro bíblico de Gênesis) equivalem a eras e não ao intervalo de tempo transcorrido entre duas alvoradas (ou seja, 24 horas), pois, segundo a própria Bíblia, o sol não data do primeiro dia da Criação.

O raio, sem os estrondos do trovão, pouco assustaria os homens, embora o perigo esteja na descarga elétrica e não no barulho.

O capitão Nemo não se limitava a fugir dos homens! Seu insólito aparelho servia não apenas a seus instintos de liberdade, mas talvez também aos interesses de não sei que terríveis represálias.

Para outro qualquer que não eu, um apaixonado pelos mares, as horas decerto teriam parecido longas e monótonas, mas aqueles passeios diários sobre a plataforma, quando eu me renovava no ar vivificante do oceano, o espetáculo daquelas águas exuberantes através dos vidros do salão, a leitura dos livros da biblioteca e a redação de minhas memórias tomavam todo o meu tempo, e em nenhum momento eu me sentia cansado ou entediado.

Mar Vermelho, célebre lago das tradições bíblicas, que as chuvas não refrescam, que nenhum rio importante rega, que uma evaporação excessiva suga incessantemente e que perde anualmente uma fatia líquida de um metro e meio de altura!

Permaneci no quarto. Queria evitar o capitão para esconder-lhe a emoção que me dominava. Triste dia, vivido entre o desejo de recuperar o livre-arbítrio e o arrependimento de abandonar aquele maravilhoso Náutilus, deixando inacabados meus estudos submarinos!

Acha então, professor, que essas riquezas são desperdiçadas quando sou eu quem as recolhe? Acha que é por mim que me dou ao trabalho de me apoderar desses tesouros? Quem lhe disse que não faço bom uso dele? Pensa que ignoro a existência de criaturas sofredoras, de raças oprimidas sobre a terra, miseráveis pedindo consolo, vítimas pedindo vingança?

Quaisquer que fossem os motivos que o haviam obrigado a buscar a independência sob os mares, ele nunca deixara de ser um homem! Seu coração (o do capitão Nemo) ainda palpitava pelos sofrimentos da humanidade e sua imensa caridade destinava-se tanto aos povos escravizados quanto aos indivíduos!

Sim, eu sabia! Sabia ser aquele homem audaz até a temeridade! Mas vencer os espinhosos obstáculos do polo sul — mais inacessível que o polo norte, ainda não alcançado pelos mais intrépidos navegadores — era uma empreitada insensata, concebível apenas no cérebro de um louco!

Podemos desafiar as leis humanas, não resistir às leis naturais.

Acrescento que estava fora de questão eu alegar problemas de saúde. Excetuando a dura provação da banquisa do polo sul, nunca nos sentimos melhor, tanto Ned quanto Conselho e eu. Alimentação sadia, atmosfera salubre, rotina diária e temperatura uniforme não davam chance à doença

Mas qual terá sido o destino do Náutilus? Terá resistido ao estrangulamento do Maëlstrom? O capitão Nemo ainda vive? Continua a tramar sob o oceano suas terríveis represálias ou teve a carreira encerrada por aquela última hecatombe? As ondas entregarão um dia o manuscrito que esconde a história de sua vida? Saberei finalmente o nome daquele homem? O navio afundado nos revelará, por meio de sua nacionalidade, a nacionalidade do capitão Nemo?

Não convivi com o insólito por dez meses? Assim, à pergunta feita há seis mil anos pelo Eclesiastes, “Quem já esteve nas profundezas do abismo?” Dois homens dentre todos têm agora o direito de dizer que o fizeram: o capitão Nemo e eu

Recomendo também assistir a um vídeo com comentários esclarecedores sobre o livro, feitos pela professora Tatiane Feltrin