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Resenha: Revolução dos bichos

SOBRE O LIVRO

Publicado em 1945, A Revolução dos Bichos, de George Orwell, é uma das obras mais marcantes do século XX. Trata-se de uma fábula, um gênero narrativo em que os personagens, frequentemente animais, apresentam características humanas – eles pensam, falam e agem como pessoas. As fábulas são histórias curtas, com lições de moral, muitas vezes transmitidas de maneira simples e acessível. Um dos maiores fabulistas da história é Esopo, da Grécia Antiga, cujas histórias foram posteriormente popularizadas por autores como Jean de La Fontaine, no século XVII. Fábulas como A Lebre e a Tartaruga e A Cigarra e a Formiga estão entre as mais conhecidas em todo o mundo.

Por ser uma fábula, a história de A Revolução dos Bichos é simples, direta e de leitura rápida. O livro tem, em média, entre 100 e 150 páginas, dependendo da edição, e a linguagem utilizada permite até mesmo que crianças entendam a história. Contudo, as críticas profundas subjacentes ao enredo – abordando poder, manipulação e corrupção – só são plenamente compreendidas por leitores adultos.

George Orwell escreveu a obra como uma sátira política que reflete os acontecimentos de sua época. Ainda assim, a mensagem do livro continua relevante na atualidade. Com milhões de cópias vendidas ao redor do mundo, A Revolução dos Bichos é bem avaliado pelo público em geral e pela crítica especializada, e é amplamente discutido em escolas e universidades.

Eis um breve resumo da história: em uma fazenda comum, os animais, cansados de serem explorados pelos humanos, resolvem tomar o controle do lugar. Liderados por um grupo de porcos, eles organizam uma revolta contra o proprietário e estabelecem um sistema baseado na igualdade e no trabalho conjunto, livre da interferência humana. No entanto, com o passar do tempo, a promessa de um mundo melhor para os bichos dá lugar a um novo tipo de opressão. Os porcos tornam-se gananciosos e manipuladores, explorando e enganando os demais animais.

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POR QUE EU GOSTEI DO LIVRO

Por ser uma leitura simples, A Revolução dos Bichos é excelente para estimular o hábito de leitura em quem ainda não tem esse costume. Uso esse livro com meus alunos do ensino médio e sempre obtenho ótimos resultados. Ao mesmo tempo, ele também agrada leitores experientes por abordar temas importantes para a sociedade.

A qualidade da narrativa é outro ponto forte. A leitura é fluida e envolvente, com momentos de aventura, humor e drama que mantêm o leitor engajado até o final. E o desfecho é surpreendente, deixando reflexões que perduram mesmo após o término da leitura.

O que mais me chamou atenção no livro foi como ele reflete os ciclos da história humana, tanto no passado quanto na atualidade. Já vimos inúmeras revoluções, protestos e mudanças políticas e econômicas ao longo do tempo. No entanto, os problemas que motivaram essas transformações muitas vezes persistem ou até pioram, gerando decepção naqueles que lutaram pela mudança. No livro, ocorre exatamente isso: quando os animais assumem o controle da fazenda, há uma grande comemoração. Mas, com o tempo, a alegria dá lugar à tristeza, pois a tão esperada transformação não trouxe os benefícios esperados.

Por fim, apreciei a importante lição do livro sobre não acreditarmos cegamente em alguém apenas por suas palavras bonitas ou por dominar a arte da oratória. Algumas pessoas podem até ter boas intenções, mas não possuem a competência para realizar mudanças duradouras. Outras, infelizmente, usam um discurso impactante apenas para mascarar interesses egoístas. Como diz o texto bíblico de Provérbios 14:15: “A pessoa ingênua acredita em qualquer palavra, mas quem é prudente pensa bem antes de cada passo.” Em outras palavras, precisamos ser prudentes e críticos, evitando sermos enganados por discursos vazios.

Assim, A Revolução dos Bichos é uma leitura leve, divertida e, ao mesmo tempo, profundamente reflexiva sobre questões fundamentais para a humanidade.

Recomendo este ótimo vídeo com comentários da professora Tatiana Feltrin

TRECHOS DO LIVRO PARA SABOREAR

E lembrem-se, companheiros, nunca vacilem em sua resolução. Não deixem que nenhum argumento os induza ao erro. Nunca escutem caso lhe digam que o homem e os animais têm um interesse comum, que a prosperidade de um é a prosperidade do outro. Tudo isso é mentira. O homem não serve aos interesses de nenhuma outra criatura a não ser aos seus mesmos. E entre nós, animais, que haja perfeita unidade, perfeito companheirismo na luta. Todos os homens são inimigos. Todos os animais são companheiros.

Na luta contra o Homem, nunca devemos ficar parecidos com ele. Mesmo quando o conquistarem, não adotem seus vícios. Nenhum animal deve jamais viver em uma casa ou dormir em uma cama ou usar roupas ou beber álcool ou fumar tabaco ou tocar em dinheiro ou se envolver com o comércio. Todos os hábitos do Homem são maus. E, acima de tudo, nenhum animal deve jamais tiranizar sua própria espécie. Fracos ou fortes, espertos ou simples, todos somos irmãos. Nenhum animal deve jamais matar nenhum outro animal. Todos os animais são iguais.

Foi mais ou menos nesta época que os porcos se mudaram repentinamente para a casa da fazenda e lá fixaram sua residência. Mais uma vez os animais se lembravam vagamente que uma resolução contrária havia sido aprovada nos primeiros dias, mas novamente Goela foi capaz de convencê-los de que isto não tinha acontecido.

Estas cenas de terror e massacre não eram o que eles esperavam naquela noite, quando o velho [porco] Major os incitou pela primeira vez à revolução. A imagem que ela, Muchacha, tinha do futuro, era de uma sociedade de animais livres da fome e do chicote, todos iguais, cada um trabalhando de acordo com sua capacidade, os fortes protegendo os fracos, como ela tinha protegido a ninhada de patinhos órfãos com suas patas na noite do discurso do Major.

De alguma forma, parecia que a fazenda tinha ficado mais rica sem tornar os próprios animais mais ricos – exceto, é claro, pelos porcos e cães.

Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que outros.

Adaptação para o cinema do livro. Vale a pena assistir!