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Resenha: A morte de Ivan Ilitch

SOBRE O LIVRO

“A Morte de Ivan Ilitch”, lançado em 1886, é uma das obras mais conhecidas do escritor russo Liev Tolstói. Tolstói, amplamente reconhecido como um dos maiores autores da história da literatura mundial, escreveu esse livro em um período de profunda reflexão sobre a vida e a morte. Na obra, ele examina a futilidade de uma existência centrada na busca por status e bens materiais.

Com cerca de 90 a 150 páginas, dependendo da edição, o livro é curto e acessível, tornando-se uma ótima escolha para quem deseja desenvolver bons hábitos de leitura. O enredo acompanha Ivan Ilitch, um juiz de alta classe social que, ao descobrir uma doença terminal, começa a refletir sobre o verdadeiro significado da vida. A narrativa explora temas universais, como a mortalidade e a falsa crença de que o sucesso social e material traz felicidade.

Tolstói usa a jornada de Ivan Ilitch para criticar a sociedade e a maneira como muitas pessoas se afastam do que realmente é importante na vida. Sua escrita envolvente e direta faz de “A Morte de Ivan Ilitch” uma leitura essencial para aqueles que buscam uma história com temáticas profundas.

Esse livro é uma excelente porta de entrada para a literatura russa, oferecendo uma narrativa intensa e reflexiva, sem ser longa ou difícil de ler.

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POR QUE EU GOSTEI DO LIVRO

“A Morte de Ivan Ilitch” é uma daquelas leituras que nos marcam profundamente. A maneira como o processo de morte é descrito é extremamente realista, mas, apesar de retratar o sofrimento intenso que leva à morte do personagem, o livro nos convida a valorizar a vida. Contudo, essa valorização não se refere a uma vida egoísta, voltada para interesses pessoais, mas sim a uma vida mais humana, baseada em amizades verdadeiras, relações familiares sinceras e valores espirituais mais profundos.

Ivan Ilitch tinha uma carreira de sucesso, uma família aparentemente feliz e, aparentemente, amigos, mas tudo isso era superficial. Sua vida era vazia e egoísta. Ele não se importava com os sentimentos dos outros, e as pessoas em seu círculo social se comportavam da mesma maneira.

Uma das partes mais marcantes da obra é a reflexão de Ivan sobre a atitude de seu empregado, Guerássim. Enquanto todos, inclusive sua esposa, se comportam com frieza diante do sofrimento de Ivan, Guerássim é o único que demonstra verdadeira compaixão. Ele ajuda Ivan a aliviar sua dor erguendo suas pernas; e faz isso não meramente por obrigação, mas com bondade. Essa atitude comove Ivan e o leva a refletir sobre como sua vida foi conduzida de maneira egoísta.

Além disso, gostei muito do estilo de escrita de Tolstói. Ele é objetivo e realista, abordando temas complexos de forma direta e em poucas páginas. O final da história é muito bem elaborado, em perfeita harmonia com as intenções do autor. Sem dúvida, é um clássico da literatura que vale a pena ler!

Na edição que li, publicada pela editora Antopofágica, há um texto de apresentação escrito pelo jornalista e escritor Yuri Al’Hanati, que achei excelente. Seguem alguns trechos:

Pois bem: eu, que em Tolstói já havia morrido com Anna Kariênina, fui morrer com Ivan Ilitch e experimentar a mais perfeita novela de um dos maiores escritores que já caminharam sobre a Terra.

O escritor, em um texto inteiro sobre a morte, faz um chamado à vida. […] Da minha parte, espero que esta leitura lhe sirva para pelo menos três coisas: testemunhar uma escrita magistral, amar a literatura russa do século XIX e olhar no olho fictício da morte para poder realizar algo que verdadeiramente faça sentido para você. Antes tarde do que tarde demais.

A professora Tatiane Feltrin faz uma excelente análise do livro. Vale a pena Conferir!

TRECHOS DO LIVRO PARA SABOREAR (retirados da edição publicada pela Editora Antopofágica)

Além das reflexões de cada um a respeito das transferências e possíveis mudanças de destino que aquela morte poderia acarretar, o próprio fato da morte de um conhecido próximo despertou em todos que ficaram sabendo dela, como sempre, uma sensação de alegria por ter morrido o outro, e não eles.

“Três dias de sofrimentos terríveis, e depois a morte. Pois isso pode acontecer comigo agora mesmo, a qualquer minuto”, pensou ele, e por um instante ficou assustado.

Obrigado. Como você faz tudo… bem, com agilidade. Guerássim sorriu de novo e fez menção de sair. Mas Ivan Ilitch sentia-se tão bem com ele, que não queria deixá-lo ir. […] A partir de então, Ivan Ilitch passou a chamar Guerássim de vez em quando e fazê-lo segurar as pernas em seus ombros. E adorava conversar com ele. Guerássim fazia aquilo com leveza, com gosto, de tal maneira simples e bondosa que comovia Ivan Ilitch.


Em certos momentos, depois de longos sofrimentos, o que Ivan Ilitch mais queria – por mais vergonhoso que lhe fosse admitir – era que alguém tivesse pena dele, como se fosse uma criança doente. […] Ele queria que o acariciassem, que o beijassem, que chorassem por ele, como afagam e consolam as crianças. […] Ele sabia que era um membro importante do tribunal, que tinha barba grisalha e que, portanto, aquilo era impossível; mas mesmo assim ele queria aquilo.

O casamento… tão por acaso, e a decepção, e o cheiro da boca da esposa, e a sensualidade, o fingimento! E aquele serviço morto, e as preocupações com o dinheiro, e assim por um ano, dois, dez, vinte… e sempre a mesma coisa. E, quanto mais tempo se passava, mais morto tudo era. Como se eu caminhasse montanha abaixo, de maneira constante, imaginando que caminhava montanha acima. Foi bem assim. Na opinião da sociedade, eu ia montanha acima, e na mesmíssima medida a vida se afastava debaixo de mim… E então pronto, pode morrer!

O médico disse que seu sofrimento físico era terrível, e isso era verdade; porém, mais terrível que seu sofrimento físico era seu sofrimento moral, e nisso estava seu principal tormento. […] Seu sofrimento moral consistia em que, naquela madrugada, olhando para o rosto de Guerássim, sonolento, bondoso, de ossos salientes, veio-lhe de súbito à mente: e se de fato toda a minha vida, minha vida consciente, foi “errada”?

Quando, pela manhã, viu o criado, depois a esposa, depois a filha, depois o médico, cada movimento deles, cada palavra deles confirmava a horrível verdade que lhe fora revelada de madrugada. Neles, via a si mesmo, tudo aquilo por que ele vivera, e via claramente que tudo aquilo estava errado, tudo aquilo era uma imensa e horrível ilusão, que encobria a vida e a morte