
SOBRE O LIVRO
O Menino de Pijama Listrado é uma obra de ficção histórica escrita pelo autor irlandês John Boyne e publicada em 2006. Desde então, o livro foi traduzido para mais de 50 idiomas e adaptado para o cinema, tornando-se um dos títulos mais elogiados da literatura contemporânea.
O livro conta a história de Bruno, um garoto alemão de nove anos que se muda de Berlim para uma área isolada devido ao trabalho de seu pai, um oficial nazista. Enquanto explora seu novo lar, Bruno encontra uma cerca que separa sua casa de um campo de concentração. Nesse local, ele conhece Shmuel, um menino judeu da mesma idade, vestindo um “pijama listrado”. A amizade entre Bruno e Shmuel, separados pela cerca e pelo contexto devastador da Segunda Guerra Mundial, conduz a história a momentos profundamente comoventes e trágicos.
Desde seu lançamento, O Menino de Pijama Listrado obteve grande sucesso e recebeu diversos prêmios. A qualidade da narrativa e a simplicidade da história fazem com que a obra seja frequentemente utilizada em escolas como ponto de partida para discussões sobre a Segunda Guerra Mundial. Em 2008, a história foi adaptada para o cinema, o que reforçou ainda mais sua relevância.

POR QUE EU GOSTEI DO LIVRO
Um dos motivos pelos quais gostei do livro é o seu poder de sensibilizar e humanizar. A mídia constantemente divulga números de vítimas de guerras em lugares como Ucrânia, Faixa de Gaza e diversos países da África. No entanto, raramente somos motivados a refletir sobre o grande sofrimento por trás desses números. O livro nos convida a refletir sobre o sofrimento que uma guerra pode causar, promovendo empatia.
Além disso, a história é muito bem escrita. O The Irish Independent destacou que “é um livro tão bem escrito que beira a perfeição”. O enredo prende a atenção e o leitor fica na expectativa dos próximos acontecimentos. Como já mencionado, a história é comovente, ainda mais por se tratar da amizade de duas crianças em meio a uma guerra tão terrível como a Segunda Guerra Mundial.
A leitura é simples, pois a história é contada sob a perspectiva de uma criança de nove anos. Por isso, podemos dizer que a linguagem do livro é um tanto infantil, apesar de não ser uma obra indicada para crianças. Achei fascinante a habilidade do autor em abordar um tema tão delicado com simplicidade.
Algumas pessoas criticam a história, argumentando que ela pode simplificar demais a realidade dos campos de concentração e a gravidade dos eventos históricos. No entanto, é importante ressaltar a natureza ficcional da obra e focar em seus aspectos positivos. O livro convida à reflexão sobre a natureza humana, preconceito, amizade e a inocência das crianças diante de um mundo brutal. Essa abordagem humaniza os eventos históricos, tornando-os mais pessoais e compreensíveis.
Costumo trabalhar com esse livro com meus alunos do ensino médio, e eles apreciam bastante. É uma ótima indicação para quem ainda não tem o hábito da leitura. A simplicidade e a profundidade da história podem motivar o leitor a desenvolver melhores hábitos de leitura.
Vale a pena ler!
TRECHOS DO LIVRO PARA SABOREAR
“Bruno sentiu uma dor na barriga e percebeu algo crescendo dentro dele, alguma coisa que, quando conseguisse sair das maiores profundezas de dentro dele até o mundo exterior, o faria gritar e berrar que tudo aquilo era errado e injusto e um grande engano pelo qual alguém haveria de pagar algum dia, ou, em vez disso, simplesmente o faria desmanchar-se em lágrimas. Ele não conseguia compreender como tudo acontecera. Num dia ele estava perfeitamente alegre, brincando em casa, com os três melhores amigos da vida toda, escorregando pelos corrimãos, tentando ver toda a cidade de Berlim da ponta dos pés, e agora estava encalhado nesta casa fria e desagradável, com três criadas sussurrantes que eram a um só tempo infelizes e bravas, onde ninguém parecia ser capaz de rir novamente.”
“Bruno, em seu coração, sabia que não havia motivo para faltar com a educação a ninguém, mesmo que a pessoa trabalhasse para você. Afinal, era para isso que existiam as boas maneiras.”
“É só isso que interessa a vocês, soldados, afinal”, disse a avó de Bruno. “Ficar bonitos nos uniformes alinhados. Fantasiando-se para fazer as coisas terríveis, terríveis que vocês fazem. Eu me envergonho. Mas culpo a mim mesma, Ralf (pai de Bruno), não a você.”
“[À medida que Bruno se aproximava da cerca pela primeira vez], um ponto na distância se transformou numa mancha que virou um vulto que virou uma pessoa que virou um menino de pijama listrado.”
“Quando Bruno se aproximou do menino pela primeira vez, ele estava sentado no chão de pernas cruzadas, olhando para a poeira debaixo de si. Entretanto, após um momento, ele olhou para cima e Bruno pôde ver o seu rosto. Era um rosto bastante estranho. A pele era quase cinza, mas diferente de outras tonalidades de cinza que Bruno já havia visto. Os olhos eram bem grandes, da cor de balas de caramelo; os brancos eram muito brancos, e, quando o menino olhou para Bruno, tudo o que este viu foi um par de enormes olhos tristes a encará-lo.”
“Todas as tardes, terminada as aulas, Bruno caminhava o longo percurso acompanhando a cerca e se sentava para conversar com o novo amigo Shmuel até a hora de voltar para casa, e aquilo começou a valer todo o tempo que ele passara sentindo saudades de Berlim.”
“Todo dia Bruno perguntava a Shmuel se podia rastejar por sob o arame para que pudessem brincar juntos do outro lado da cerca, e todo dia Shmuel respondia que não, que não era uma boa ideia.”
“‘Os dois meninos olharam para baixo e compararam suas mãos’. Embora Bruno fosse pequeno para a idade, e certamente não era gordo, sua mão parecia saudável e cheia de vida. A mão de Shmuel, entretanto, contava uma história muito diferente.”
“Quando Bruno entrou no campo de concentração pela primeira vez para ajudar seu amigo Shmuel, o que viu não foi crianças brincando, mas multidões de pessoas sentadas juntas em grupo, olhando para o chão, com uma aparência terrivelmente triste. Todos tinham uma coisa em comum: eram terrivelmente magros.”
“Bruno olhou para baixo e fez algo bastante incomum para a sua personalidade: tomou a pequena mão de Shmuel e apertou-a com força entre as suas. ‘Você é o meu melhor amigo Shmuel’, disse Bruno. ‘Meu melhor amigo para a vida toda.'”