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Opinião: redescubra o prazer da leitura

O autor Nicholas Carr, em seu livro A Geração Superficial: O que a Internet Está Fazendo com Nossos Cérebros (em breve escreverei um post sobre esse livro), comenta como seus hábitos de leitura sofreram um declínio. Ele relata que, antes, conseguia ler longos trechos de uma narrativa, mas agora começa a perder a concentração após uma ou duas páginas. Carr atribui esse declínio ao aumento do tempo que passa online.

Nicholas Carr não é uma exceção. Muitas pessoas, inclusive aquelas com boa formação acadêmica e nível avançado de leitura, têm cada vez menos paciência para ler textos longos. Conheço até professores de filosofia e literatura que já não conseguem mais se concentrar em leituras mais profundas. A realidade é que a maioria de nós tem gastado mais tempo em aplicativos como WhatsApp, Facebook, Instagram, TikTok, e em buscas constantes no Google. Mais recentemente, a popularização de ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT, também tem contribuído para esse cenário. O uso inadequado dessas tecnologias pode ter impactos negativos, como Carr detalha em seu livro.

Vale a pena ter bons hábitos de leitura

De acordo com a tese central do livro, quanto mais tempo uma pessoa passa online, menor é sua capacidade de concentração. Carr apresenta várias estatísticas para comprovar essa afirmação. Ficar muito tempo online pode provocar alterações nos neurônios, resultando na perda da habilidade de manter o foco durante a leitura de um texto mais longo. Isso ocorre porque, ao estar online, uma pessoa é bombardeada por um fluxo constante de informações e estímulos audiovisuais. Esses estímulos acabam prejudicando a capacidade de leitura e concentração.

No entanto, mesmo na era digital, é possível desenvolver e manter bons hábitos de leitura. Aqui estão algumas dicas práticas:

  1. Reserve tempo para ler todos os dias: Nem que sejam apenas 10 ou 15 minutos diários. O importante não é tanto a quantidade de tempo gasto, mas sim ter uma rotina de leitura.
  2. Crie um ambiente de leitura favorável: Escolha um lugar tranquilo e confortável, que facilite a concentração. Nicholas Carr, por exemplo, mudou-se para uma região mais calma e reduziu o uso das redes sociais para escrever seu livro.
  3. Desconecte-se durante a leitura: Coloque o celular em modo avião ou mantenha-o longe enquanto lê, para evitar distrações.
  4. Comece com livros mais curtos: Assim como em exercícios físicos, é aconselhável começar devagar e aumentar gradualmente a intensidade. Isso vale também para exercícios intelectuais, como a leitura.
  5. Estabeleça metas de leitura: Defina objetivos, como ler um determinado número de páginas ou capítulos por dia. Isso ajuda a criar uma rotina de leitura.
  6. Compartilhe suas experiências de leitura: Conversar sobre livros com familiares e amigos pode ser uma forte motivação para continuar lendo.
  7. Aproveite o tempo ocioso: Em vez de usar o tempo de espera em filas ou consultórios apenas para verificar o celular, leia algumas páginas de um livro.
  8. Experimente diferentes formatos de leitura: Se os livros físicos não são tão convenientes para você, tente usar um Kindle ou outro dispositivo semelhante. (Há um post sobre o Kindle aqui no Sabores Literários).
  9. Estabeleça limites para o tempo online: Controle o tempo que você passa conectado. Controle também o número de vezes por dia que verifica mensagens. O uso inadequado de dispositivos eletrônicos afeta negativamente o cérebro.
  10. Reflita sobre os benefícios da leitura: Leia não apenas por obrigação, mas pelo prazer e pelos benefícios que a leitura traz. Uma boa leitura estimula a imaginação e mexe com nossas emoções. Além disso, a leitura é um dos melhores exercícios intelectuais que existem e ajuda a prevenir doenças mentais como Alzheimer e TDAH, além de reduzir a ansiedade e melhorar a capacidade de realizar as tarefas diárias.

Assim, é possível redescobrir o prazer da leitura na era digital. Usando as palavras de Nicholas Carr, podemos, sim, ser como “mergulhadores em um mar de palavras”, em vez de apenas “deslizarmos pela superfície, como alguém em um jet ski.”