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Resenha: livro Frankenstein

SOBRE O LIVRO

“Frankenstein”, de Mary Shelley, é uma ficção marcante na literatura mundial. A autora, Mary Shelley, tinha apenas 18 anos quando escreveu esse romance e era filha dos conhecidos escritores William Godwin e Mary Wollstonecraft. O livro foi publicado pela primeira vez em 1818, de forma anônima, em Londres, na Inglaterra. Somente em 1823, na segunda edição, Mary Shelley recebeu os créditos como autora.

Mary Shelley

A obra pertence pertence ao movimento literário chamado Romantismo. “Frankenstein” é estruturado como um romance epistolar, ou seja, narrado através de cartas, e foi escrito durante o verão de 1816, quando Mary Shelley estava na Suíça com seu futuro marido, Percy Bysshe Shelley, e o poeta Lord Byron.

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O livro considera temas éticos e morais que permanecem relevantes nos dias atuais. “Frankenstein” se tornou um clássico da literatura mundial, tanto é que inspirou várias adaptações para o cinema, teatro e televisão. É difícil encontrar alguém que não tenha ouvido falar do nome “Frankenstein”. Mas vale lembrar que “Frankenstein” não é o nome do monstro e, sim, do cientista que criou o monstro.

Uma das adaptações do livro para o cinema foi lançada em 1931

POR QUE EU GOSTEI DO LIVRO

Gostei por diversos motivos. O livro aborda temas importantes, como os limites para os estudos científicos. Ele discute as consequências que podem ocorrer quando determinadas barreiras são ultrapassadas.

Além disso, “Frankenstein” explora questões fundamentais, como o sentido da vida e o que deve ser prioridade para um ser humano. A narrativa nos faz refletir sobre as consequências das ações humanas, especialmente aquelas que não levam em consideração questões éticas e morais. Outro tema importante tratado é a importância de não julgar alguém pela aparência, destacando a necessidade de compaixão e empatia.

O livro também é extremamente atual em suas discussões. Por exemplo, é possível relacioná-lo à atual ameaça nuclear. Podemos, inclusive, fazer uma conexão do livro “Frankenstein (ou o Prometeu Moderno” com o livro “Oppenheimer, o Prometeu Americano” (2005), uma biografia do cientista que liderou o projeto manhattan. Esse projeto resultou na construção das bombas atômicas lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Esse é outro livro interessante para ler.

“Frankenstein” é uma narrativa relativamente curta e envolvente. A cada página, o leitor fica ansioso para saber o desfecho da história, pois fica imerso nas reviravoltas e nos dilemas enfrentados pelos personagens.

OUTRAS OPINIÕES SOBRE O LIVRO

Para aprofundar ainda mais sua compreensão sobre o livro “Frankenstein”, recomendo assistir a dois vídeos curtos. Nesses vídeos, estudiosos renomados compartilham suas opiniões sobre a obra. A ideia é que você se sinta ainda mais motivado a ler esse grande clássico da literatura mundial

José Garcez Ghirardi: Em seu vídeo, Ghirardi aborda a importância de “Frankenstein” no contexto da modernidade e discute os dilemas éticos e científicos que a obra levanta.
Luiz Felipe Pondé: Pondé oferece uma interessante análise sobre os aspectos filosóficos e existenciais presentes no livro, refletindo sobre a criação e a responsabilidade do criador.

TRECHOS DO LIVRO PARA SABOREAR

Um dos fenômenos que de maneira mais peculiar chamavam-me a atenção era a estrutura do corpo humano; na verdade, de qualquer animal imbuído de vida. De onde, eu frequentemente me perguntava, vinha o princípio vital? Era uma pergunta ousada, desde sempre considerada um mistério;

Minha imaginação não era afetada em nada pela escuridão; e, para mim, um cemitério não passava de um receptáculo de corpos destituídos de vida, os quais, de morada do vigor e da beleza, haviam se tornado comida para vermes.

Via a delicada forma do homem degradar-se e se perder; assistia à deterioração da morte que sucedia à face florescente da vida; via o verme tornar-se herdeiro das maravilhas de um olho ou de um cérebro.

Depois de dias e noites de esforço e cansaço inimagináveis, logrei descobrir a causa da geração da vida; e, mais importante, tornei-me capaz de reanimar matéria morta.

Aprende comigo, se não por meus princípios, ao menos por meu exemplo, o quanto é perigosa a aquisição de conhecimento e como pode um homem ser mais feliz quando crê que sua cidade é o próprio mundo, em vez de aspirar a uma grandiosidade que sua natureza não lhe permitirá alcançaR.

Como a miudeza das partes revelou-se um grande obstáculo à velocidade da execução, resolvi, ao contrário de meu primeiro plano, produzir um ser de estatura gigante; ou seja, com quase dois metros e meio de altura e largura proporcional.

Um ser humano que almeja a perfeição necessita preservar a mente sempre calma e em paz, sem jamais permitir que a paixão ou um desejo passageiro perturbem sua tranquilidade. Não creio que a busca do conhecimento seja exceção à regra. Se o estudo ao qual a pessoa se dedica tende a enfraquecer seus afetos e a destruir o gosto por aqueles prazeres simples que não se deveriam deixar contaminar, nesse caso tal estudo é decerto injustificado, ou seja, impróprio à mente humana.

“Eu esperava ser assim recebido”, disse o monstro. “Os miseráveis são odiados por todos os homens; quão odiado devo ser eu, por conseguinte, miserável para além de todas as coisas! E tu, no entanto, meu criador, detestas e rejeitas esta tua criatura, à qual tua arte te liga por laços que somente é possível romper pelo aniquilamento de um de nós. Estás disposto a me matar. Como te atreves a brincar assim com a vida? Cumpre tua obrigação comigo e cumprirei a minha contigo e com o restante da humanidade. Se aceitares minhas condições, a eles e a ti deixarei em paz; mas, se recusares, fartarei a bocarra da morte até saciá-la do sangue dos familiares que te restam.”

“Como convencer-te? Será que apelo nenhum tornará favorável a visão que tens desta tua criatura que te implora bondade e compaixão? Acreditas em mim, Frankenstein: eu era bem-intencionado; minha alma resplandecia amor e humanidade; ainda assim não fiquei só, miseravelmente só? Tu, meu criador, me abominas; que esperança posso ter nos demais humanos, teus iguais, que nada me devem? Eles me rejeitam e odeiam

“Aquelas narrativas maravilhosas inspiraram-me estranhos sentimentos. Seria o homem, de fato, a um só tempo tão poderoso, virtuoso e magnificente e também tão perverso e sem caráter? Ele me parecia, às vezes, mero herdeiro do princípio do mal e, em outros momentos, tudo que podia ser concebido como nobre e divino. Tornar-se um grande e valoroso homem era, aparentemente, a mais alta distinção que poderia suceder a uma pessoa sensível; ser mau e torpe, conforme se registrava que tantos haviam sido, parecia significar a mais baixa degradação, condição mais abjeta do que a da toupeira cega ou a do verme inofensivo. Por muito tempo, fui incapaz de entender como um homem poderia matar um seu igual, ou mesmo por que existiam leis e governos. Contudo, ao ouvir detalhes sobre maldades e banhos de sangue, meu espanto cessou e, com desprezo e pesar, desviei o rosto.

“Que estranha é a natureza do conhecimento! Uma vez que adere à mente, ali se fixa como limo à rocha. Eu por vezes desejava livrar-me de todo pensamento e de todo sentimento, mas percebi que havia apenas uma forma de superar a sensação de dor, e ela era a morte — um estado que eu temia, ainda que não compreendesse.

Minha pessoa era hedionda e minha estatura, a de um gigante. O que isso significava? Quem era eu? O que era eu? De onde vinha? Qual era meu destino? Eram perguntas que voltavam continuamente, e eu não conseguia respondê-las.

Como são instáveis nossos sentimentos, e que estranho esse apego que temos à vida mesmo no limite da desgraça!

Ah, resignar-se faz bem ao desafortunado, mas ao culpado não oferece paz. As agonias do remorso envenenam o conforto que, de outro modo, às vezes pode-se encontrar na entrega ao excesso de sofrimento.

Busca ser feliz na tranquilidade e evita a ambição, mesmo aquela aparentemente inocente do reconhecimento na ciência e nas descobertas. Por que digo isso? Acabei destruído por tais esperanças, mas outros podem ter sucesso.”

Houve um tempo em que esperei, iludido, encontrar seres que, tolerantes com minha aparência, amariam as excelentes qualidades que eu fosse capaz de desenvolver. Cultivei elevadas noções de honra e devoção. Porém hoje, degradado pelo crime, estou abaixo do mais cruel dos animais. Não existe culpa nem mal nem crueldade nem miséria comparáveis. Quando revejo o aterrador rol de meus pecados, não consigo acreditar que esta seja a mesma criatura cujos pensamentos estiveram, um dia, repletos de sublimes e transcendentes visões da beleza e da majestade da benevolência